O Acto de Criar/ Escrever
3 participantes
Página 1 de 1
O Acto de Criar/ Escrever
Mais uma vez não me posso calar… o tema desta crónica será a escrita, sim, é isso mesmo, a escrita não em si, no geral no genérico mas a minha opinião sobre a escrita, escrever Fanfics.
Para já, penso que escrever uma Fanfic não é nada do outro mundo, é um passatempo para uns, para outros uma forma de ganhar a vida, mas para mim não é só isso. Gosto de ler, sempre gostei, nunca o escondi, mas quando leio um livro consigo visualizar a cena toda na minha cabeça, como se estivesse a ver um filme. Devoro cada palavra, cada gesto cada emoção sentida ou querida, raramente nunca me contento com o final de um livro.
A meu ver, acho que a história passada naquele contexto, época histórica, poderia ser de uma outra maneira, sei lá dar um ar menos, pesado à história.
Estou a pensar em Maias Carlos Eduardo da Maia poderia não ser irmão de Maria Eduarda, sim sei que é um pouco irónico da minha parte andar a criticar Eça de Queiroz e dizer que eles não deveriam ser irmãos, mas acho pura e simplesmente que eles deveriam ter um final feliz, no entanto percebo Eça, o que ele queria transmitir na sociedade de uso e costumes que tanto adorava.
Mas o mais ridículo de tudo na história da escrita portuguesa foi o Amor de Perdição, da autoria de Camilo Castelo Branco, Simão e Teresa foram mortos pelos pais. Só porque as famílias não se davam, olha que se dessem! Nunca concordei com este final trágico.
Digo, vulgarmente, que um escritor é um Deus ou Demónio tem que mentir, coisa que detesto, Diana do Cadaval no dia 5 de Fevereiro de 2013, salientou no programa Boa Tarde, transmitido pela SIC, que ela na qualidade de escritora histórica “tem de pensar no percurso das suas personagens, nos sentimentos, nos assassinatos”. A maior parte das vezes, um escritor é um anjo e tem mesmo de o ser, é um Deus omnipresente que está em todo o lado ao mesmo tempo, é um Demónio que nos faz sofrer.
Um criador de FanFic é muito mais do que um telespectador, um leitor, um fã no pensamento de Sartre "O que é o materialismo, senão o estado do homem que se afastou de Deus; (...) ele passa unicamente a preocupar-se com os seus interesses terrestres."
A meu ver Deus não é mais do que um simples espectador que vai assistindo às tramas que cada um de nós desenvolve na nossa vida.
"Posso querer aderir a um partido, escrever um livro, casar-me, tudo isso não passa de uma manifestação de uma opção mais original, mais espontânea do que aquilo a que se chama vontade."
Deste modo, todos nós somos livres das nossas escolhas. Basta para isso sabermos que as acções têm uma consequência que pode ser de facere ou non-facere conforme o tipo de acções, devemos responder por elas perante o espaço social em que nos envolvemos, por outras palavras devemos responder perante a lei, e explicar o que em determinada situação, circunstancia quisermos dizer ou fazer e assim seremos ou não condenados a uma pena ou medida de segurança. No fundo, todos os contratos celebrados dependem da autonomia de vontade do nosso livre arbítrio em fazer uma determinada tarefa ou não, em ponderar em realizar uma determinada ordem ou por e simplesmente em menosprezar essa directiva.
Bom, e como isto já está longo o suficiente, e eu não vos quero massacrar com mais um testamento, infundado, sobre a perspectiva de ser leitor, critico ou simplesmente escritor. Na minha opinião qualquer um destes papeis leva o seu trabalho, é preciso paciência, viver as personagens e não, tem nada a ver com o tempo, tem a ver mais com pesquisa com trabalho muito trabalho, e algum tempo desperdiçado em volta de uma historia, eu preferido dizer que é falta de tempo para escrever e arranjar todos os argumentos possíveis, impossíveis e imagináveis para não o fazer. Concordo, até certo ponto, quanto mais andarem com uma história na cabeça, mais ela se desenvolve mais pensam acerca dela sobre determinada personagem sobre determinado gesto, mais lêem mais investigam não é preciso ser muito é só um pequeno esforço.
Ser Deus, numa perspectiva muito deontológica até todos nós o somos, porque segundo Sartre é inerente ao Ser Humano queremos ser Deus. O que significa que todo o indivíduo enquanto cidadão de uma colectividade quer imitar o Divino, ora na minha óptica, este problema do Divino, do Deus esta obstinação esta equiparação esta dicotomia entre o Homem e Deus encontra a sua repercussão eco na literatura quando cada um de nós quando lemos os Maias, Amor de Predição vivemos aquela história, os acontecimentos narrados e julgamos os personagens os autores que já morreram fazemos uma leitura a nossa leitura não a leitura querida por eles mas a que cada um de nós faz ao interpretar um texto, ao estudarmos ao resumir, temos até certo ponto guias, sabemos que Eça tinha um Alter-Ego sabemos que Carlos era um diletante, mas isso não basta, não chega para nos sentirmos Deus.
Somos Deus! Sim até certo ponto, porque tanto como os grandes mestres nos ensinaram, nós criamos personagens damos um nome são os nossos filhos, damos uma identidade, uma casa, incutimos-lhes uma vivência, uma acção as nossas personagens são inocentes, nós não, porque sabemos o que vai acontecer estudamos trabalhamos pesquisamos no nosso espaço social bisbilhotamos os outros para que as nossas personagens saiam o mais próximas da realidade, o mais fiel ao nosso principio, sim somos como Deus estamos em todo o lado na historia, um muro, uma vedação, um passeio e aí estão os nossos olhos, ouvidos, cérebro que brota, fervilha de ideias, o facto de afirmar ser Deus aqui nestas escassas linhas que escrevo, é por uma razão muito simples, uma vez que ao criarmos uma determinada personagem, a sentimos, deixamos que ela faça parte de nós a ouvimos, a vemos, falamos com ela, a ofendemos, a maltratamos temos tantos poderes para decidir que tipo de acções ela desenrola, na nossa história. Sabemos o que queremos o que decidimos querer, os contornos para determinada acção para determinada personagem, o que sentimos, sabemos tudo dela, temos um BI dessa personagem e nada do que possamos inventar do destino a dar a ela nos assusta.
«De Africa e de Ásia andaram devastando,
E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei da Morte libertando:
Cantando espalharei por toda a parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte»
In Os Lusíadas, Luís de Camões
Esta estrofe quer dizer que a escrita liberta o autor da morte, pois quando lemos um livro de um autor que já faleceu esse homem ilustre e sábio volta do mundo dos mortos e pelo poder da nossa leitura está à secretária a escrever e a pensar, a pontuar e a entoar a nossa leitura.
Eu escrevo por desabafo, para transmitir o meu conhecimento no fundo crio outras vidas, vividas e mitigadas que me fazem falta face à corria do Mundo que vejo agora da janela do escritório, pelo silencio de uma casa abandonada.
Agora tudo é calmo, a paz monótona da cidade, de uma noite adormecida o silêncio permanece à minha volta posso viajar por esta memória estragada, que não conhece mais do que a lei da razão a lareira na sala cripta enquanto vejo através do vidro a chuva a cair…
Quantas vezes, é que imaginamos o Eça de Queiroz a escrever enquanto o lemos?
Será assim tão mau pensar nisto?
Para já, penso que escrever uma Fanfic não é nada do outro mundo, é um passatempo para uns, para outros uma forma de ganhar a vida, mas para mim não é só isso. Gosto de ler, sempre gostei, nunca o escondi, mas quando leio um livro consigo visualizar a cena toda na minha cabeça, como se estivesse a ver um filme. Devoro cada palavra, cada gesto cada emoção sentida ou querida, raramente nunca me contento com o final de um livro.
A meu ver, acho que a história passada naquele contexto, época histórica, poderia ser de uma outra maneira, sei lá dar um ar menos, pesado à história.
Estou a pensar em Maias Carlos Eduardo da Maia poderia não ser irmão de Maria Eduarda, sim sei que é um pouco irónico da minha parte andar a criticar Eça de Queiroz e dizer que eles não deveriam ser irmãos, mas acho pura e simplesmente que eles deveriam ter um final feliz, no entanto percebo Eça, o que ele queria transmitir na sociedade de uso e costumes que tanto adorava.
Mas o mais ridículo de tudo na história da escrita portuguesa foi o Amor de Perdição, da autoria de Camilo Castelo Branco, Simão e Teresa foram mortos pelos pais. Só porque as famílias não se davam, olha que se dessem! Nunca concordei com este final trágico.
Digo, vulgarmente, que um escritor é um Deus ou Demónio tem que mentir, coisa que detesto, Diana do Cadaval no dia 5 de Fevereiro de 2013, salientou no programa Boa Tarde, transmitido pela SIC, que ela na qualidade de escritora histórica “tem de pensar no percurso das suas personagens, nos sentimentos, nos assassinatos”. A maior parte das vezes, um escritor é um anjo e tem mesmo de o ser, é um Deus omnipresente que está em todo o lado ao mesmo tempo, é um Demónio que nos faz sofrer.
Um criador de FanFic é muito mais do que um telespectador, um leitor, um fã no pensamento de Sartre "O que é o materialismo, senão o estado do homem que se afastou de Deus; (...) ele passa unicamente a preocupar-se com os seus interesses terrestres."
A meu ver Deus não é mais do que um simples espectador que vai assistindo às tramas que cada um de nós desenvolve na nossa vida.
"Posso querer aderir a um partido, escrever um livro, casar-me, tudo isso não passa de uma manifestação de uma opção mais original, mais espontânea do que aquilo a que se chama vontade."
Deste modo, todos nós somos livres das nossas escolhas. Basta para isso sabermos que as acções têm uma consequência que pode ser de facere ou non-facere conforme o tipo de acções, devemos responder por elas perante o espaço social em que nos envolvemos, por outras palavras devemos responder perante a lei, e explicar o que em determinada situação, circunstancia quisermos dizer ou fazer e assim seremos ou não condenados a uma pena ou medida de segurança. No fundo, todos os contratos celebrados dependem da autonomia de vontade do nosso livre arbítrio em fazer uma determinada tarefa ou não, em ponderar em realizar uma determinada ordem ou por e simplesmente em menosprezar essa directiva.
Bom, e como isto já está longo o suficiente, e eu não vos quero massacrar com mais um testamento, infundado, sobre a perspectiva de ser leitor, critico ou simplesmente escritor. Na minha opinião qualquer um destes papeis leva o seu trabalho, é preciso paciência, viver as personagens e não, tem nada a ver com o tempo, tem a ver mais com pesquisa com trabalho muito trabalho, e algum tempo desperdiçado em volta de uma historia, eu preferido dizer que é falta de tempo para escrever e arranjar todos os argumentos possíveis, impossíveis e imagináveis para não o fazer. Concordo, até certo ponto, quanto mais andarem com uma história na cabeça, mais ela se desenvolve mais pensam acerca dela sobre determinada personagem sobre determinado gesto, mais lêem mais investigam não é preciso ser muito é só um pequeno esforço.
Ser Deus, numa perspectiva muito deontológica até todos nós o somos, porque segundo Sartre é inerente ao Ser Humano queremos ser Deus. O que significa que todo o indivíduo enquanto cidadão de uma colectividade quer imitar o Divino, ora na minha óptica, este problema do Divino, do Deus esta obstinação esta equiparação esta dicotomia entre o Homem e Deus encontra a sua repercussão eco na literatura quando cada um de nós quando lemos os Maias, Amor de Predição vivemos aquela história, os acontecimentos narrados e julgamos os personagens os autores que já morreram fazemos uma leitura a nossa leitura não a leitura querida por eles mas a que cada um de nós faz ao interpretar um texto, ao estudarmos ao resumir, temos até certo ponto guias, sabemos que Eça tinha um Alter-Ego sabemos que Carlos era um diletante, mas isso não basta, não chega para nos sentirmos Deus.
Somos Deus! Sim até certo ponto, porque tanto como os grandes mestres nos ensinaram, nós criamos personagens damos um nome são os nossos filhos, damos uma identidade, uma casa, incutimos-lhes uma vivência, uma acção as nossas personagens são inocentes, nós não, porque sabemos o que vai acontecer estudamos trabalhamos pesquisamos no nosso espaço social bisbilhotamos os outros para que as nossas personagens saiam o mais próximas da realidade, o mais fiel ao nosso principio, sim somos como Deus estamos em todo o lado na historia, um muro, uma vedação, um passeio e aí estão os nossos olhos, ouvidos, cérebro que brota, fervilha de ideias, o facto de afirmar ser Deus aqui nestas escassas linhas que escrevo, é por uma razão muito simples, uma vez que ao criarmos uma determinada personagem, a sentimos, deixamos que ela faça parte de nós a ouvimos, a vemos, falamos com ela, a ofendemos, a maltratamos temos tantos poderes para decidir que tipo de acções ela desenrola, na nossa história. Sabemos o que queremos o que decidimos querer, os contornos para determinada acção para determinada personagem, o que sentimos, sabemos tudo dela, temos um BI dessa personagem e nada do que possamos inventar do destino a dar a ela nos assusta.
«De Africa e de Ásia andaram devastando,
E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei da Morte libertando:
Cantando espalharei por toda a parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte»
In Os Lusíadas, Luís de Camões
Esta estrofe quer dizer que a escrita liberta o autor da morte, pois quando lemos um livro de um autor que já faleceu esse homem ilustre e sábio volta do mundo dos mortos e pelo poder da nossa leitura está à secretária a escrever e a pensar, a pontuar e a entoar a nossa leitura.
Eu escrevo por desabafo, para transmitir o meu conhecimento no fundo crio outras vidas, vividas e mitigadas que me fazem falta face à corria do Mundo que vejo agora da janela do escritório, pelo silencio de uma casa abandonada.
Agora tudo é calmo, a paz monótona da cidade, de uma noite adormecida o silêncio permanece à minha volta posso viajar por esta memória estragada, que não conhece mais do que a lei da razão a lareira na sala cripta enquanto vejo através do vidro a chuva a cair…
Quantas vezes, é que imaginamos o Eça de Queiroz a escrever enquanto o lemos?
Será assim tão mau pensar nisto?
Anne Margareth- Brontë
- Localização : Lisboa
Histórias Publicadas : -----------
A Força d'um Amor (+18) Tomo I: Amor Imortal
Re: O Acto de Criar/ Escrever
... Quero ler esta cróónica!! Mas também quero ler o Amor de Perdição, pelo que parei mal li o nome da obra para não sofrer spoilers/ ter a história arruinada antes sequer de pegar no livro...
Re: O Acto de Criar/ Escrever
Eu acho que já discuti isto numa outra crónica, mas posso dizê-lo outra vez: ser Deus é muito bom e é talvez o que leva as pessoas a escrever, mas não é tudo.
Admito que adoro fazê-lo, saber que detenho o poder sobre as personagens e que tudo o que existe nelas foi criado por mim. Mas a verdade é que, a meio da história, sinto-as a fugirem ao meu controlo e a viverem vidas que nunca planeei. Podem chamar-me louca, mas a verdade é mesmo essa. Nunca pensei em ter personagens ou linhas de acção que tenho agora, mas a verdade é que apareceram e isso é ainda mais fantástico.
Agora, concordo contigo quando dizes que escreves para desanuviar; acho que isso fazemos todos. Quando não conseguimos falar mas precisamos de uma válvula que liberte toda a pressão, apenas a arte fica. Alguns tocam, outros pintam, nós escrevemos. Uns mais que outros, mas é isso que fazemos :)
Admito que adoro fazê-lo, saber que detenho o poder sobre as personagens e que tudo o que existe nelas foi criado por mim. Mas a verdade é que, a meio da história, sinto-as a fugirem ao meu controlo e a viverem vidas que nunca planeei. Podem chamar-me louca, mas a verdade é mesmo essa. Nunca pensei em ter personagens ou linhas de acção que tenho agora, mas a verdade é que apareceram e isso é ainda mais fantástico.
Agora, concordo contigo quando dizes que escreves para desanuviar; acho que isso fazemos todos. Quando não conseguimos falar mas precisamos de uma válvula que liberte toda a pressão, apenas a arte fica. Alguns tocam, outros pintam, nós escrevemos. Uns mais que outros, mas é isso que fazemos :)
Re: O Acto de Criar/ Escrever
Bom o que eu quero dizer, é que, o que me apraz mais é criar, e nisso sinto-me de facto Deus, pois tal como Ele, ao criar personagens e ao desenvolver uma Fanfic somos Deus, pois não tem nada a ver com o percurso das nossas personagens mas sim só pelo naturalidade que a criarmos, e pelo desenrolar da história, vá secalhar não seremos Deus, mas sim um "peudo Deus" mas mesmo assim sinto-me como se fosse um. Pois, mesmo uma história não planeada acho que somos Deus porque quando escrevemos inventamos ou por uma razão, ou por outra, mas penso que todos nós nos sentimos como um.
Sim, Fox* concordo, há inumeras pessoas que aliviam o Stress, por outras vias e algumas também são as minhas, adoro tocar piano, cantar. Todavia, também penso que tenho mais geito para escrever, assim descarrego todas as minhas emoções, desabafo com o papel e em torno dele, nas personagens a que dou vida e que existem na minha cabeça, para além que também existem as pessoas...
Beijinhos,
Fan Joana Alvarenga
Sim, Fox* concordo, há inumeras pessoas que aliviam o Stress, por outras vias e algumas também são as minhas, adoro tocar piano, cantar. Todavia, também penso que tenho mais geito para escrever, assim descarrego todas as minhas emoções, desabafo com o papel e em torno dele, nas personagens a que dou vida e que existem na minha cabeça, para além que também existem as pessoas...
Beijinhos,
Fan Joana Alvarenga
Anne Margareth- Brontë
- Localização : Lisboa
Histórias Publicadas : -----------
A Força d'um Amor (+18) Tomo I: Amor Imortal
Página 1 de 1
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos
|
|