Vozes
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Vozes
Este texto tem uns 2 ou 3 anos... O ritmo repetitivo e obsessivo é propositado. Doce loucura, doce loucura...
Ah. E é uma grande caca não dar para pôr aqui espaço parágrafo: mesmo que eu o PONHA aqui colando-o, ele não aparece no post... ok ok ...
Quando há um grande espaço entre um parágrafo e outro, é quando eles deveriam realmente ter um espaço entre eles. De resto, é a minha maneira de separar os parágrafos para que não tenha um ataquinho com a falta dessas coisas queridas que os parágrafos são!
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Porque estava ele sentado contra a parede manchada de vermelho, sorrindo despreocupadamente, os dentes a espreitarem por detrás dos lábios entreabertos, baloiçando num ritmo fixo para trás e para diante? As mãos sujas de sangue apertavam os joelhos, contraindo-se e distendendo-se em intervalos irregulares de tempo. Os ombros sacudiam-se de vez em quando numa gargalhada muda e sem graça. Os olhos vazios fixavam o nada, e até o observador mais desatento notaria neles um laivo de pura loucura.
Porque ficava ele ali, naquela sala iluminada pela luz do amanhecer, ao lado de vários cadáveres desmembrados e brutalizados que cheiravam já a podre?
Ele não sabia.
Melhor dizendo: ele não queria saber... Só a Voz sabia e ele nunca perguntava – somente obedecia cegamente; tudo pela Voz, tudo pela Voz...
....
O homem ouvia-as: moribundas, sussurravam palavras de desespero dentro da sua cabeça, nunca parando, nunca parando...
Todas falavam ao mesmo tempo, atropelando-se umas às outras. Nenhuma conseguia passar bem a mensagem. Aquilo que o homem ouvia não passava de uma infinita balbúrdia sonora.
Às vezes, uma delas elevava o tom de voz, começava a gritar de dor. Outra seguir-se-ia, talvez um urro de mágoa e pesar. Um choro de saudade, um queixume de fome. Um suspiro de pena. Um berro de agonia. Um murmúrio de tristeza.
No final, todas se elevavam, juntando-se numa só cadência cheia de tormento, um som que continha todo o horror da humanidade na sua consistência. Um som de eterno sofrimento.
As palavras que o homem escutava prolongavam-se numa escuridão sem fim, uma escuridão profundamente enraizada dentro de si e que ele abraçava sem restringimentos. Escuridão que todos temos dentro de nós, mas que tentamos trancar com inúmeros cadeados de ferro, para que não sejamos tomados por ela.
Mas o negrume interior deste homem inundava-o e dominava a sua sanidade, transbordava do seu ser – e as vozes que nele habitavam não se calavam, e o homem não podia deixar de sentir na pele tudo quanto aqueles que ouvia sofriam. E jamais poderia escapar – as sombras moribundas faziam parte de si, perseguiam-no dia e noite, sóbrio e acordado, bêbado ou adormecido. Elas estavam sempre lá, encarnado a sua dor através da dor que provocavam nele.
A sua salvação era a outra. A outra Voz. A Voz que sabia tudo... e pela qual ele faria qualquer coisa.
Quando as primeiras se juntavam numa maré que quase o afogava, a outra Voz surgia nas profundezas da sua consciência. Mas esta era diferente. Ele sempre soube que esta Voz era diferente.
Lentamente, mas numa marcha certa, ela aproximava-se num sibilo quase silencioso... Trazia sempre consigo a impressão de um sorriso, a segurança de que tudo correria bem... Pouco a pouco, fazia-se ouvir melhor, elevando o tom, elevando o tom, até este se tornar como a voz de uma criança inocente. A personificação da alegria e do riso.
Então, as suas palavras apaziguadoras e calmantes tornavam-se ordens, escondidas em pedidos de brincadeiras. Ordens a que o homem tinha de obedecer.; nunca lhes poderia resistir, era compelido a realizá-las. Tinha de agradar à Voz e fazê-la feliz se a queria manter consigo por mais tempo.
Foi isso que ele fez da primeira vez. Da segunda. Da terceira. E de todas as outras que se seguiram e que ele não se deu ao trabalho de contar.
Agora, estava sentado no chão pintado de carmesim, baloiçando o corpo e sorrindo. Levou as mãos cobertas de sangue à frente do rosto, como que as mostrando a alguém... E o seu sorriso acentuou-se ainda mais.
A voz sussurrava-lhe elogios, lá dentro da cabeça dele. E ele sorria, contente por ter a Voz perto de si, contente porque a Voz parecia contente.
Faria de tudo a todos, as vezes que fossem necessárias. Tudo para manter a voz a rir e, depois, tê-la a falar-lhe mais um bocadinho, mais um bocadinho...
Ah. E é uma grande caca não dar para pôr aqui espaço parágrafo: mesmo que eu o PONHA aqui colando-o, ele não aparece no post... ok ok ...
Quando há um grande espaço entre um parágrafo e outro, é quando eles deveriam realmente ter um espaço entre eles. De resto, é a minha maneira de separar os parágrafos para que não tenha um ataquinho com a falta dessas coisas queridas que os parágrafos são!
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Porque estava ele sentado contra a parede manchada de vermelho, sorrindo despreocupadamente, os dentes a espreitarem por detrás dos lábios entreabertos, baloiçando num ritmo fixo para trás e para diante? As mãos sujas de sangue apertavam os joelhos, contraindo-se e distendendo-se em intervalos irregulares de tempo. Os ombros sacudiam-se de vez em quando numa gargalhada muda e sem graça. Os olhos vazios fixavam o nada, e até o observador mais desatento notaria neles um laivo de pura loucura.
Porque ficava ele ali, naquela sala iluminada pela luz do amanhecer, ao lado de vários cadáveres desmembrados e brutalizados que cheiravam já a podre?
Ele não sabia.
Melhor dizendo: ele não queria saber... Só a Voz sabia e ele nunca perguntava – somente obedecia cegamente; tudo pela Voz, tudo pela Voz...
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O homem ouvia-as: moribundas, sussurravam palavras de desespero dentro da sua cabeça, nunca parando, nunca parando...
Todas falavam ao mesmo tempo, atropelando-se umas às outras. Nenhuma conseguia passar bem a mensagem. Aquilo que o homem ouvia não passava de uma infinita balbúrdia sonora.
Às vezes, uma delas elevava o tom de voz, começava a gritar de dor. Outra seguir-se-ia, talvez um urro de mágoa e pesar. Um choro de saudade, um queixume de fome. Um suspiro de pena. Um berro de agonia. Um murmúrio de tristeza.
No final, todas se elevavam, juntando-se numa só cadência cheia de tormento, um som que continha todo o horror da humanidade na sua consistência. Um som de eterno sofrimento.
As palavras que o homem escutava prolongavam-se numa escuridão sem fim, uma escuridão profundamente enraizada dentro de si e que ele abraçava sem restringimentos. Escuridão que todos temos dentro de nós, mas que tentamos trancar com inúmeros cadeados de ferro, para que não sejamos tomados por ela.
Mas o negrume interior deste homem inundava-o e dominava a sua sanidade, transbordava do seu ser – e as vozes que nele habitavam não se calavam, e o homem não podia deixar de sentir na pele tudo quanto aqueles que ouvia sofriam. E jamais poderia escapar – as sombras moribundas faziam parte de si, perseguiam-no dia e noite, sóbrio e acordado, bêbado ou adormecido. Elas estavam sempre lá, encarnado a sua dor através da dor que provocavam nele.
A sua salvação era a outra. A outra Voz. A Voz que sabia tudo... e pela qual ele faria qualquer coisa.
Quando as primeiras se juntavam numa maré que quase o afogava, a outra Voz surgia nas profundezas da sua consciência. Mas esta era diferente. Ele sempre soube que esta Voz era diferente.
Lentamente, mas numa marcha certa, ela aproximava-se num sibilo quase silencioso... Trazia sempre consigo a impressão de um sorriso, a segurança de que tudo correria bem... Pouco a pouco, fazia-se ouvir melhor, elevando o tom, elevando o tom, até este se tornar como a voz de uma criança inocente. A personificação da alegria e do riso.
Então, as suas palavras apaziguadoras e calmantes tornavam-se ordens, escondidas em pedidos de brincadeiras. Ordens a que o homem tinha de obedecer.; nunca lhes poderia resistir, era compelido a realizá-las. Tinha de agradar à Voz e fazê-la feliz se a queria manter consigo por mais tempo.
Foi isso que ele fez da primeira vez. Da segunda. Da terceira. E de todas as outras que se seguiram e que ele não se deu ao trabalho de contar.
Agora, estava sentado no chão pintado de carmesim, baloiçando o corpo e sorrindo. Levou as mãos cobertas de sangue à frente do rosto, como que as mostrando a alguém... E o seu sorriso acentuou-se ainda mais.
A voz sussurrava-lhe elogios, lá dentro da cabeça dele. E ele sorria, contente por ter a Voz perto de si, contente porque a Voz parecia contente.
Faria de tudo a todos, as vezes que fossem necessárias. Tudo para manter a voz a rir e, depois, tê-la a falar-lhe mais um bocadinho, mais um bocadinho...
Última edição por DeathlessNokas em Qui Ago 29, 2013 10:04 pm, editado 4 vez(es) (Motivo da edição : isto estava cheio de typos, q horror XD)
Re: Vozes
Esquizofrénico? Inicialmente pensei em distúrbio de personalidade múltipla, mas ele começou a falar das vozes e de todas as que ouvia ao mesmo tempo, por isso pus essa ideia de parte.
As repetições que foste fazendo deram essa mesma ideia de obsessão e de paranóia do sujeito e deixaram-me curiosa quanto a um continuação. Não sei se a vais fazer, mas gostava de ver o que se seguiria depois deste massacre :)
As repetições que foste fazendo deram essa mesma ideia de obsessão e de paranóia do sujeito e deixaram-me curiosa quanto a um continuação. Não sei se a vais fazer, mas gostava de ver o que se seguiria depois deste massacre :)
Re: Vozes
Sim, acho que a ideia original era criar alguém esquizofrénico... Embora já não tenha a certeza porque, como se passou tanto tempo, a minha impressão do protagonista virou apenas "ele, o phsico" XD .
YeeY, ainda bem que o ritmo chatinho da história conseguiu fazer o que eu queria que ele fizesse ^_^ !
Nah, foi apenas uma ideia que não me largou até que fui obrigada a pôr em papel... Foram as VOOOOZES que me obrigaram !! XD As vozes da obrigação de escritora-amadora... *cof*
Merci pelo teu comment :DDD ! Ainda bem que gostaste ^_^ .
Beijinhos ***
YeeY, ainda bem que o ritmo chatinho da história conseguiu fazer o que eu queria que ele fizesse ^_^ !
Nah, foi apenas uma ideia que não me largou até que fui obrigada a pôr em papel... Foram as VOOOOZES que me obrigaram !! XD As vozes da obrigação de escritora-amadora... *cof*
Merci pelo teu comment :DDD ! Ainda bem que gostaste ^_^ .
Beijinhos ***
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