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O Cego

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Mensagem por liebevskrieg Sáb Out 20, 2012 9:38 pm

— Veja! O homem que não vê.
— Pois eu tenho minhas dúvidas, mamãe.
Era uma novidade para mim aquele indivíduo. Eu jamais o tinha visto antes, mas todos sabiam o quanto eu gostava de contrariar a minha mãe. Ela também sabia, dizia que era coisa da idade e que demoraria a passar. Não me deu muita bola.
A pequena conversa que tivemos fez-me pensar sobre a condição daquele homem. Sem aviso prévio, apareceu pelas redondezas cobrando favores e ajudas da maioria das pessoas mesmo tendo empregados.
Minhas palavras de contradição à minha mãe, proferidas sem conhecimento de causa impregnaram-se em mim. Eu estava realmente acreditando que ele não passava de um fingido.
Fui para a cama pensativa e demorei a dormir. Estava com culpa por ter falado mal de quem eu nada conhecia e pior, estar achando coisas ruins a respeito dele. Eu, talvez, pudesse testá-lo ajudando-o com algo; quem sabe eu conseguisse notar um erro nele. Primeiramente eu satisfaria meu ego; também deixaria de sentir a maldita culpa.
A noite havia demorado a passar. Minha ansiedade quase não conseguia conter-se e desci rapidamente para um breve café da manhã, como era o costume da casa.
— Bom dia, filha. — Disse minha mãe.
— Olá. — Respondi, com tom de pouco caso.
— O que houve? Estou achando-te estranha.
— Não é nada mãe, apenas estou com pressa e… Acho que nem comerei.
Saí imediatamente à procura do cego. Como eu deveria chamá-lo? De cego mesmo? Antes de mais nada era melhor clarear as coisas sobre ele. Eu queria saber de onde ele saiu, por que veio parar logo aqui, por que não… Tem um cachorro? Que tipo de cego não tem um animalzinho para servir-lhe de auxílio e de companhia?
O caso estava completamente encerrado. Ele não tem animais, logo, ele não é deficiente visual. Acabou. Pensei em retornar, mas percebi que do outro lado da rua havia uma mulher que de algum lugar eu conhecia. Ela estava ao lado do cego quando mamãe falou-me dele!
Assustei-me ao vê-la aproximar-se de mim:
— É você a filha da Cátia?
— Sim. — Respondi.
— Diga que Joana quer ter com ela, melhor dizendo, fazer-lhe uma proposta.
— Digo sim. — Respondi pensando em suas palavras.
Deu-me as costas e partiu. Não vi outra saída a não ser comunicar minha mãe sobre o que a tal Joana falou.
Cheguei em casa desanimada. Eu estava convencida sobre aquele homem, mas foi só ver Joana que a culpa retornou. Passei o recado sem esforçar-me muito para ser clara nas palavras que eu dizia. Mamãe entendeu o suficiente para sair depressa e esquecer-se dos devidos agradecimentos. Fiquei observando-a pela janela até não ser mais possível vê-la. Resolvi correr em busca de informações, queria saber qual seria a proposta daquela mulher.
Seguindo minha mãe cheguei a uma casa branca, não muito grande e que me pareceu ser bem simples. De lá de dentro podia-se escutar duas mulheres falando e eu logo reconheci as vozes: eram as duas que eu procurava.
Muito conversaram e pouco disseram de importante. A tal proposta ainda não havia sido mencionada, só as escutei falando sobre a vida, ou melhor, reclamando dela. Falaram de roupas e de decorações para a casa, coisa que só uma mulher do lar poderia realmente entender.
Eu já estava impaciente, desistindo de escutá-las e querendo voltar para casa, mas o instante a seguir foi marcado por Joana falando o que a levou a chamar minha mãe: ela era uma amiga do cego e auxiliava-o em quase tudo, até que fora contratada para um bom emprego. Agora necessitava de alguém para substituí-la e queria que fosse mamãe. O sim que escutei logo em seguida fez-me calar. Por que ela aceitou? Será explorada por aquele fingido. Irei junto dela no primeiro dia de trabalho.
Mal podia eu esperar para conhecer o homem e provar minha razão. O melhor de tudo era que ela começaria a trabalhar no dia seguinte a este que fora chamada ao serviço, e que não tardou a chegar:
— Bom dia a todos da família. Nem ficarei muito para o café. Ontem aceitei trabalhar para um senhor daqui da rua como doméstica. — Disse minha mãe, que ainda tinha mais coisas ruins a falar:
— Filha, quero que limpe a mesa e lave a louça quando todos terminarem de comer.
Preparei-me para dizer o que se seguiria:
— Mãe, irei com a senhora. Posso, por favor?
— Claro, assim você ajuda em algo por lá. E aqui a sujeira agora ficará por conta de seu pai, avise-o. — Disse esperançosa.
Meu plano era outro, jamais de ajudá-la. Mamãe saiu comigo apressada, como se seu novo patrão estivesse distribuindo ouro. Ao chegarmos à casa do cego, entrei e fiquei chocada com ele e principalmente com o tratamento que compreendera a mim; senti-me sua filha. Aquela culpa retornava e, enquanto minha mãe pegava uma vassoura para limpar o primeiro cômodo, conversamos ele e eu, a sós.
Aquele homem estava deixando-me mal por um lado; porém, pelo outro, eu estava adorando a conversa e, possivelmente, uma nova amizade que estivesse formando-se naquele sofá. Os assuntos tomaram muito tempo. Eu não tinha a mínima ideia de quanto, mas sabia que havia sido muito. A culpa era imensa.
— Bom senhor, preciso ir. Lembrei que tenho tarefas domésticas de ontem para fazer. — Menti.
Senhor? Por acaso tenho cara de velho, menina? Se bem que acho que você está certa, velhos têm cabelos brancos e outro dia encontrei um fio desses sobre uma roupa minha.
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Mensagem por Fox* Dom Out 21, 2012 10:45 am

Olha, eu comecei a ler o teu texto, pensando que, pelas palavras iniciais, irias deixar aqui uma reflexão sobre cegueira e assim. Depois, foste contando a história e eu estava um pouco desconfiada do que irias fazer. Mas a frase final valeu tudo!
Muito divertido e simples o texto! Gostei, sem dúvida :D
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Mensagem por Ylerinn Dom Out 21, 2012 12:08 pm

...raios. Levei o texto inteiro a pensar que a rapariga estava a ser bruta e a implicar com o pobre do homem, chega o fim e vejo que a bruta fui eu xD
Adorei! Gostei da incerteza, das mudanças de opinião em relação ao homem, de como é fácil e flúido de ler, mas realmente adorei o fim. Se eu fosse ela, tinha partido para a porrada, mas isso sou só eu :3
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Mensagem por liebevskrieg Dom Out 21, 2012 1:50 pm

Pois é, fiz baseado num homem que eu conheço e que eu duvido ser cego, mas este é sim xD
Adorei o comentário de vocês *------* Muito obrigada!
Com esse texto eu quis mostrar o quanto as pessoas podem acreditar na própria mentira, mas quando aparecem sentimentos ruins, elas vão em busca da sua própria verdade para acabar com eles. Nesse texto ela consegue, porque é apenas um texto, eu fiz isso para mostrar que nem sempre dá para viver do que se lê, às vezes a vida vai muito além... E também para as pessoas sentirem exatamente o que vocês sentiram xD
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