O Que Sou…
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O Que Sou…
Reinventar o que não sou, o que já não tenho, o que se perdeu;
Avivar a memória com lembranças numeras, de momentos findos,
De alguém que já partiu.
Assim, desenvencilho meus dias, num rolar que é de tormento.
Assim, aconchego meus medos, num abraço que é desfeito.
Escutar a bruma da manhã é não sentir mais que trovoada,
É despertar de um sono pouco intenso, por demais batente,
Neste peito em sufocação.
Ai de mim, que estou só e desamparada!
Correr cortinas, abrir janelas, encarar a solidão,
Perder de vista o horizonte e desencontrar-me do infinito,
Isso sim, pesadelo digno de apelidação. O que sonho
São tormentas, nada mais que consumição.
Enfeitam a paisagem temporal desta mente desvairada.
Somente queria vê-los noutro sono, num mais profundo, mais certeiro.
Não estão.
Ai de mim, que sinto saudade de uma alma que a aragem levou!
Saturada de pedantes animadores, pedi por rodas e veículos a motor,
Negaram.
Cansada de uma madrugada de insónias, eu roguei por compaixão,
Novamente concordaram em negá-lo.
Desespero neste infausto pensamento de uma morte que é presente,
De uma vida que, fugazmente, me deixou por outro ensejo.
Lamento, injurio, xingo e repulso uma Vida que seja escassa,
Medíocre de êxtase, finita de novidade. Procuro uma essência
Que deslumbre, que fascine, que me domine no seu enlaço
E me cuide, se cuidada ser eu alvejasse.
Não anseio paternalismos exagerados, nem pancadinhas sobre o ombro,
Somente entrevejo uma alma, cuja vida fosse minha, cuja dor,
Igualmente minha, se revelasse, se algum dia a ferir eu intentasse.
Ai de mim, que sou pávida, que sou única entre milhões tão mais felizes!
(E se não o são, então, fingem-no melhor que eu, reles poetiza)
Sou de extrema ignorância, eu, mulher asfalta e sadia.
Habito colinas que não alcançam céu, planto árvores inférteis de pomo,
Cultivo terras cinzentas,
De água, não visitadas,
De chuva, renegadas.
Sou rainha numa corte de reis, por virilidades másculas dominada,
Sou feminina numa vitrina revestida a traje negro.
Ai de mim, que sou estranheza apartada do seu nicho criador!
E os ouvintes, os suaves e bem-aventurados, audientes,
Os que nada mais fazem, senão escutar e adormecer
Com estes versos que são maléficos, carregados de dor.
Sou franzina e rebuscada, sou incógnita e desajeitada,
Mas neste peito, de uso escasso, aliás, carrego um fardo
Que é de amor,
Não de raiva ou inveja…
Não desejo mais do que tenho, não abdico, contudo,
Do que é meu, em troca de outro, mais banal.
Se bem que, seria sensato ver-me fazê-lo, já que tanto
Me dedico a enaltecê-lo, a criticar-me.
Uma réstia de luminosidade neste beco escurecido é quanto peço,
Nada mais me atreverei,
Apenas luz, porque é sonante,
Não mais treva, pois cria suspense e faz a lógica divagar.
No entanto, devo ser franca, seduz-me mais a noite negra
Que qualquer manhã luzente. Inspira-me
E proporciona alento ao coração, metaforicamente, quebrado.
Não tem causa, esse exagerado. Não amou!
Mas que desfecho, trágico e curioso, o de uma alma solitária.
Dever-se-ia fazer menos amargo, se é só, não carrega dois.
E quem diria?
Um sozinho sofre inteiro mais que dois despedaçados!
O movimento giratório é desconcertante,
Atrevido e surpreendente. Deixa-me acreditar que é dia, que é noite,
Que é sesta, que é morte.
Mente!
O desgraçado mente e não se dói por meu fraquejo,
Somente ri e estala os dedos, assobiando em regozijo.
Amanhã, quem serei eu? E hoje, alguém eu sou?
Ontem houve ou foi ilusão que despertou?
Futuramente, a descoberta revelar-se-á monótona, desinteressante,
Que importa? Neste instante a aspiração é grandiosa,
É estonteante. Vindouramente? A ignorância apela à curiosidade,
Tanto quanto limões atraem camelos…
Avivar a memória com lembranças numeras, de momentos findos,
De alguém que já partiu.
Assim, desenvencilho meus dias, num rolar que é de tormento.
Assim, aconchego meus medos, num abraço que é desfeito.
Escutar a bruma da manhã é não sentir mais que trovoada,
É despertar de um sono pouco intenso, por demais batente,
Neste peito em sufocação.
Ai de mim, que estou só e desamparada!
Correr cortinas, abrir janelas, encarar a solidão,
Perder de vista o horizonte e desencontrar-me do infinito,
Isso sim, pesadelo digno de apelidação. O que sonho
São tormentas, nada mais que consumição.
Enfeitam a paisagem temporal desta mente desvairada.
Somente queria vê-los noutro sono, num mais profundo, mais certeiro.
Não estão.
Ai de mim, que sinto saudade de uma alma que a aragem levou!
Saturada de pedantes animadores, pedi por rodas e veículos a motor,
Negaram.
Cansada de uma madrugada de insónias, eu roguei por compaixão,
Novamente concordaram em negá-lo.
Desespero neste infausto pensamento de uma morte que é presente,
De uma vida que, fugazmente, me deixou por outro ensejo.
Lamento, injurio, xingo e repulso uma Vida que seja escassa,
Medíocre de êxtase, finita de novidade. Procuro uma essência
Que deslumbre, que fascine, que me domine no seu enlaço
E me cuide, se cuidada ser eu alvejasse.
Não anseio paternalismos exagerados, nem pancadinhas sobre o ombro,
Somente entrevejo uma alma, cuja vida fosse minha, cuja dor,
Igualmente minha, se revelasse, se algum dia a ferir eu intentasse.
Ai de mim, que sou pávida, que sou única entre milhões tão mais felizes!
(E se não o são, então, fingem-no melhor que eu, reles poetiza)
Sou de extrema ignorância, eu, mulher asfalta e sadia.
Habito colinas que não alcançam céu, planto árvores inférteis de pomo,
Cultivo terras cinzentas,
De água, não visitadas,
De chuva, renegadas.
Sou rainha numa corte de reis, por virilidades másculas dominada,
Sou feminina numa vitrina revestida a traje negro.
Ai de mim, que sou estranheza apartada do seu nicho criador!
E os ouvintes, os suaves e bem-aventurados, audientes,
Os que nada mais fazem, senão escutar e adormecer
Com estes versos que são maléficos, carregados de dor.
Sou franzina e rebuscada, sou incógnita e desajeitada,
Mas neste peito, de uso escasso, aliás, carrego um fardo
Que é de amor,
Não de raiva ou inveja…
Não desejo mais do que tenho, não abdico, contudo,
Do que é meu, em troca de outro, mais banal.
Se bem que, seria sensato ver-me fazê-lo, já que tanto
Me dedico a enaltecê-lo, a criticar-me.
Uma réstia de luminosidade neste beco escurecido é quanto peço,
Nada mais me atreverei,
Apenas luz, porque é sonante,
Não mais treva, pois cria suspense e faz a lógica divagar.
No entanto, devo ser franca, seduz-me mais a noite negra
Que qualquer manhã luzente. Inspira-me
E proporciona alento ao coração, metaforicamente, quebrado.
Não tem causa, esse exagerado. Não amou!
Mas que desfecho, trágico e curioso, o de uma alma solitária.
Dever-se-ia fazer menos amargo, se é só, não carrega dois.
E quem diria?
Um sozinho sofre inteiro mais que dois despedaçados!
O movimento giratório é desconcertante,
Atrevido e surpreendente. Deixa-me acreditar que é dia, que é noite,
Que é sesta, que é morte.
Mente!
O desgraçado mente e não se dói por meu fraquejo,
Somente ri e estala os dedos, assobiando em regozijo.
Amanhã, quem serei eu? E hoje, alguém eu sou?
Ontem houve ou foi ilusão que despertou?
Futuramente, a descoberta revelar-se-á monótona, desinteressante,
Que importa? Neste instante a aspiração é grandiosa,
É estonteante. Vindouramente? A ignorância apela à curiosidade,
Tanto quanto limões atraem camelos…
Re: O Que Sou…
Quando comecei a ler o poema, achei que fosse descrever o desapontamento perante alguma coisa. Depois escalou para a vida que todos desejam mas poucos alcançam, continuou num sentimento de amor e acabou no que és tu, eu ou qualquer outro ser humano. Quando voltei a ler, apercebi-me que esses pequenos temas não estão assim visivelmente tão separados, mas que fazem parte de um conjunto muito maior daquilo que entendi ser a vida ou o que, mais uma vez, desejamos que ela seja.
Não tenho qualquer talento para poesia, por isso gosto muito de ler aquelas que me aparecem à frente e fiquei agradavelmente surpresa com o teu. São poucos os poemas aqui publicados com esse tamanho e com tanto a contar :)
Não tenho qualquer talento para poesia, por isso gosto muito de ler aquelas que me aparecem à frente e fiquei agradavelmente surpresa com o teu. São poucos os poemas aqui publicados com esse tamanho e com tanto a contar :)
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