Hora de Hotel
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Hora de Hotel
São quatro da manhã aqui. Deverei dizer antes «madrugada»? Bem, não sei. Tecnicamente, estamos de madrugada... Mas, tecnicamente, isto não interessa.
Já passa da tradicional hora de hotel... Tu sabes, aquela altura em que, dizem por aí, acordas sozinho numa terra que não é tua e não consegues mais dormir. Sentes-te um estranho e a cabeça desata a trabalhar a mil à hora e não tens descanso até que o Sol entre pela janela e te fira os olhos sensíveis. Depois, tomas uma chávena de café bem forte e andas de óculos de sol durante o dia seguinte.
Isto, claro, também tecnicamente falando. Pessoalmente, nunca passei por esta experiência e não posso falar muito dela. Ainda assim, são quatro da manhã e eu não consigo dormir.
Estou deitado na cama, a olhar para um tecto que já conheço, suponho, demasiado bem. Não penso que os seres humanos percam muito tempo a observar tectos, embora eu o faça, suponho, em demasia. Conheço o meu, sei que objectos projectam que sombras ali por cima da porta, sei que a humidade deixou uma mancha perto do velho candeeiro, sei até quantas rachas a tinta mostra. Divirto-me, à noite, a olhar para o tecto enquanto penso. Hoje, pensava no resto do mundo...
Neste planeta habita imensa gente. Noutra parte qualquer da Terra, serão duas da tarde e talvez uma mãe zangada esteja a dar um raspanete a um rapaz parecido comigo por chegar tarde a casa e atrasar o almoço. Talvez um casal de namorados esteja a desfrutar de um passeio à beira rio, sob um céu azul e um Sol brilhante. Talvez um homem na casa dos trinta anos esteja em frente a uma garrafa de licor quase vazia amaldiçoando o bom tempo que não combina com o seu humor sombrio. Talvez uma qualquer rapariga esteja a cortar o cabelo num salão chique numa ponta de uma cidade, enquanto que, na mesma cidade, na outra ponta, outra rapariga se entristeça a olhar no espelho o seu cabelo demasiado curto.
São estas as coisas que me passam pela cabeça enquanto me divirto a contemplar o tecto que conheço demasiado bem, agora já vinte minutos depois das quatro da manhã.
No meio de tanta subjectividade, só tenho uma certeza quanto ao mundo em que vivo: algures por aí, no meio de todos os milhares de milhões de pessoas que no planeta existem, há alguém a pensar o mesmo que eu. Uma rapariga, espero. E ela pensa talvez em mim, um rapaz que olha o tecto, imaginando o que outras pessoas estejam a fazer noutras partes do mundo.
Gostava de conhecê-la, a essa rapariga. Talvez ela não achasse estranha a quantidade de tempo que eu gasto a olhar para o tecto. Talvez ela, um dia, olhasse para o tecto comigo, ao meu lado, a mão dela na minha.
Era bom, não era?
Acho que vou dormir, agora.
Já passa da tradicional hora de hotel... Tu sabes, aquela altura em que, dizem por aí, acordas sozinho numa terra que não é tua e não consegues mais dormir. Sentes-te um estranho e a cabeça desata a trabalhar a mil à hora e não tens descanso até que o Sol entre pela janela e te fira os olhos sensíveis. Depois, tomas uma chávena de café bem forte e andas de óculos de sol durante o dia seguinte.
Isto, claro, também tecnicamente falando. Pessoalmente, nunca passei por esta experiência e não posso falar muito dela. Ainda assim, são quatro da manhã e eu não consigo dormir.
Estou deitado na cama, a olhar para um tecto que já conheço, suponho, demasiado bem. Não penso que os seres humanos percam muito tempo a observar tectos, embora eu o faça, suponho, em demasia. Conheço o meu, sei que objectos projectam que sombras ali por cima da porta, sei que a humidade deixou uma mancha perto do velho candeeiro, sei até quantas rachas a tinta mostra. Divirto-me, à noite, a olhar para o tecto enquanto penso. Hoje, pensava no resto do mundo...
Neste planeta habita imensa gente. Noutra parte qualquer da Terra, serão duas da tarde e talvez uma mãe zangada esteja a dar um raspanete a um rapaz parecido comigo por chegar tarde a casa e atrasar o almoço. Talvez um casal de namorados esteja a desfrutar de um passeio à beira rio, sob um céu azul e um Sol brilhante. Talvez um homem na casa dos trinta anos esteja em frente a uma garrafa de licor quase vazia amaldiçoando o bom tempo que não combina com o seu humor sombrio. Talvez uma qualquer rapariga esteja a cortar o cabelo num salão chique numa ponta de uma cidade, enquanto que, na mesma cidade, na outra ponta, outra rapariga se entristeça a olhar no espelho o seu cabelo demasiado curto.
São estas as coisas que me passam pela cabeça enquanto me divirto a contemplar o tecto que conheço demasiado bem, agora já vinte minutos depois das quatro da manhã.
No meio de tanta subjectividade, só tenho uma certeza quanto ao mundo em que vivo: algures por aí, no meio de todos os milhares de milhões de pessoas que no planeta existem, há alguém a pensar o mesmo que eu. Uma rapariga, espero. E ela pensa talvez em mim, um rapaz que olha o tecto, imaginando o que outras pessoas estejam a fazer noutras partes do mundo.
Gostava de conhecê-la, a essa rapariga. Talvez ela não achasse estranha a quantidade de tempo que eu gasto a olhar para o tecto. Talvez ela, um dia, olhasse para o tecto comigo, ao meu lado, a mão dela na minha.
Era bom, não era?
Acho que vou dormir, agora.
Última edição por DeathlessNokas em Qui Ago 15, 2013 10:18 pm, editado 2 vez(es) (Motivo da edição : typo)
Re: Hora de Hotel
Oh God, eu identifico-me demasiado com estes textos! Não pode ser!
Não que olhe em demasia para tetos, não tenho esse hábito, mas também perco horas de sono (demasiadas!) a pensar em tudo e mais algumas coisas, muitas delas não fazendo sentido!
Mas isto é um comentário ao teu texto, não a mim; achei interessante (e quase posso dizer "super fofo"! :) )a personagem principal, masculina, estar a pensar numa pessoa, numa possível "alma gémea" que esteja a passar pelo mesmo que ele (possivelmente a pensar no mesmo que ele) e que, talvez, estejam destinados. Achei essa reflexão muito bonita e o contraste com este tema mais "pesado" ficou, como já disse interessante.
Acho que todos, num momento ou noutro, independentemente de ser hora de hotel ou não (engraçado, foi a primeira vez que ouvi esta expressão), pensamos no que estará a fazer a pessoa a quem estamos destinados, conhecendo-a ou não :)
Não que olhe em demasia para tetos, não tenho esse hábito, mas também perco horas de sono (demasiadas!) a pensar em tudo e mais algumas coisas, muitas delas não fazendo sentido!
Mas isto é um comentário ao teu texto, não a mim; achei interessante (e quase posso dizer "super fofo"! :) )a personagem principal, masculina, estar a pensar numa pessoa, numa possível "alma gémea" que esteja a passar pelo mesmo que ele (possivelmente a pensar no mesmo que ele) e que, talvez, estejam destinados. Achei essa reflexão muito bonita e o contraste com este tema mais "pesado" ficou, como já disse interessante.
Acho que todos, num momento ou noutro, independentemente de ser hora de hotel ou não (engraçado, foi a primeira vez que ouvi esta expressão), pensamos no que estará a fazer a pessoa a quem estamos destinados, conhecendo-a ou não :)
Re: Hora de Hotel
Sim, eu acredito muito nisso ^_^
E quando criei isto queria passar a ideia que até as pessoas "menos normais" (lê isto no sentido mais lato e vago possível, porque a "normalidade" é a coisa mais lata e vaga possível XD ) pensam nisso e têm almas gémeas!
O rapaz era suposto ser um bocado autista e obsessivo, daí a minha utilização repetitiva de palavras em alturas diferentes, ou a tentativa de explicar tudo com o "subjectivo" e o "tecnicamente", para haver uma definição/ explicação para tudo, para que tudo o acalme e não o irrite...
Daí as almas gémeas: algo que, para ele, também é certo e também o acalma....
Anos depois, mudei isto. Mantive as repetições para me lembrar desta ideia original XD , mas já não está tão latente nem o texto tão comprido...
E passa as minhas crenças sob a pele de outra pessoa :) , com o "tom" dela e não o meu, o que é giro ^^
beijinhos**
E quando criei isto queria passar a ideia que até as pessoas "menos normais" (lê isto no sentido mais lato e vago possível, porque a "normalidade" é a coisa mais lata e vaga possível XD ) pensam nisso e têm almas gémeas!
O rapaz era suposto ser um bocado autista e obsessivo, daí a minha utilização repetitiva de palavras em alturas diferentes, ou a tentativa de explicar tudo com o "subjectivo" e o "tecnicamente", para haver uma definição/ explicação para tudo, para que tudo o acalme e não o irrite...
Daí as almas gémeas: algo que, para ele, também é certo e também o acalma....
Anos depois, mudei isto. Mantive as repetições para me lembrar desta ideia original XD , mas já não está tão latente nem o texto tão comprido...
E passa as minhas crenças sob a pele de outra pessoa :) , com o "tom" dela e não o meu, o que é giro ^^
beijinhos**
Última edição por DeathlessNokas em Sex Jun 21, 2013 12:39 pm, editado 1 vez(es)
Re: Hora de Hotel
Adorei este texto!
À medida que o lia, parecia que estava a ouvir o rapaz e os seus pensamentos. Estás a ver aqueles que se deitam naqueles sofás duros, nas salas com cheiros esquisitos e confessam os seus "pecados" a um estranho? Bem, eu senti-me na pele do estranho a ouvir o rapaz; e, ao mesmo tempo, identifico-me com o moço. Eu perco inúmeras horas de sono e pensar na "morte da bezerra" e como a ovelha choné pode saltar um muro, o que, inconscientemente, faz-me saber as rachas e os preguinhos que tenho no teto (ainda mais pormenorizado, já que durmo num beliche xD).
Olha outro que enfia o "tecnicamente" e os "suponhos" em quase todas as suas "filosofias". Eu também uso umas quantas vezes para tentar explicar coisas "inexplicáveis" para mim.
Que giro! A pensar na sua alma gémea. Vou ser sincera: não imagino um rapaz a pensar em tal coisa. Até tenho a sensação que eles nem acreditam nessas cenas (treta, talvez). Mas, tecnicamente (ora aqui está), eles são uns "machões" (ou não).
Acho que todos desejamos encontrar aquele que nos compreende e entende as nossas maluquices.
Adorei *-*
À medida que o lia, parecia que estava a ouvir o rapaz e os seus pensamentos. Estás a ver aqueles que se deitam naqueles sofás duros, nas salas com cheiros esquisitos e confessam os seus "pecados" a um estranho? Bem, eu senti-me na pele do estranho a ouvir o rapaz; e, ao mesmo tempo, identifico-me com o moço. Eu perco inúmeras horas de sono e pensar na "morte da bezerra" e como a ovelha choné pode saltar um muro, o que, inconscientemente, faz-me saber as rachas e os preguinhos que tenho no teto (ainda mais pormenorizado, já que durmo num beliche xD).
Olha outro que enfia o "tecnicamente" e os "suponhos" em quase todas as suas "filosofias". Eu também uso umas quantas vezes para tentar explicar coisas "inexplicáveis" para mim.
Que giro! A pensar na sua alma gémea. Vou ser sincera: não imagino um rapaz a pensar em tal coisa. Até tenho a sensação que eles nem acreditam nessas cenas (treta, talvez). Mas, tecnicamente (ora aqui está), eles são uns "machões" (ou não).
Acho que todos desejamos encontrar aquele que nos compreende e entende as nossas maluquices.
Adorei *-*
Re: Hora de Hotel
Oh, acredita, eles não são os "otários mauzões" que muitas vezes parecem... E grande parte deles chegam a ser mais sensíveis/ cuidadosos/ preocupados (etc) com estas coisas do que nós!
XD embora seja dificilimo de acreditar, eu bem sei XD
Obrigada por leres e teres comentado :D ! Ainda bem que consegui fazer-te sentir perto do miúdo :D !
Beijinhos *** ^^
XD embora seja dificilimo de acreditar, eu bem sei XD
Obrigada por leres e teres comentado :D ! Ainda bem que consegui fazer-te sentir perto do miúdo :D !
Beijinhos *** ^^
Re: Hora de Hotel
Gostei bastante da forma como conseguiste criar este texto curto. Com frases pequenas e revelando apenas os detalhes que permitem criar a atmosfera necessária, conseguiste algo que tem definitivamente valor! Estás, de facto, de parabéns. É possível captar bem o nervosismo e a tensão do rapaz. Diria até obsessão. Mas talvez isso seja característica desta "Hora de Hotel". Conseguiste captar a minha atenção - algo que só costuma ser feito por long-shots - num texto curto. Pela última vez, adorei. :)
Marfire- Andersen
- Histórias Publicadas : -----------
Re: Hora de Hotel
Obrigada pelo teu comentário, Marfire :D . Fico-te muito agradecida por teres lido o meu mini-texto e ainda mais por teres "perdido" tempo a deixar a tua opinião ^_^ . Por último, fico contentíssima por ter conseguido captar-te a atenção, sendo ou não coisa difícil de ser feita com textos piiquenos :))))) .
Sim -- era a minha intenção criar essa atmosfera de obsessão, nervosismo e inquietude q ronda sempre o rapaz e q envolve toda a gente nesta hora :P .
Ainda bem q gostaste :D
Beijinhos ^_^ e obrigada outra vez :))))
Sim -- era a minha intenção criar essa atmosfera de obsessão, nervosismo e inquietude q ronda sempre o rapaz e q envolve toda a gente nesta hora :P .
Ainda bem q gostaste :D
Beijinhos ^_^ e obrigada outra vez :))))
Re: Hora de Hotel
olhar para o tecto e pensar em todas as coisas do mundo. essa sou eu! ahah. Gostei muito do texto e da maneira como transmitiste o sentimento e o pensamento ;)
Re: Hora de Hotel
Acho q toda a gente se identifica um bocadinho com isto... Uns mais, outros menos; mas todos nos identificamos um 'cadinho :P .
Eu, a autora, identifico-me pouco, hoje em dia XD . Então é giro ficar a saber das reacções dos outros :P
Ainda bem que gostaste ^_^ Obrigada por comentares :D
Beijinhos !! :))))
Eu, a autora, identifico-me pouco, hoje em dia XD . Então é giro ficar a saber das reacções dos outros :P
Ainda bem que gostaste ^_^ Obrigada por comentares :D
Beijinhos !! :))))
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