Desesperanças de um Auto-encontro.
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Desesperanças de um Auto-encontro.
Ao som de mais uns rapazes
despenteados
penso no que me aconteceu
ao amor às coisas.
Irmã, que me vives por dentro,
sei que me deixaste cortar-te o cabelo;
peço-te mais uma vez a inspiração
da tua transpiração por este mundo
que gira mais que nós:
irmã, sei que me enches os vazios,
mas que é feito da minha vontade?
Que é feito da torre feita água
que transbordava todas as manhãs?
A minha resposta nula,
o meu mundo vazio,
o meu despedaçar no chão,
o meu mundo tranquilo
sem nada nem ninguém.
Sem nada nem medo de não ser ninguém.
E repito-me. De que me vale repetir-me?
E repito: de que me vale repetir?
Este vazio inunda-me mais que o amor.
Este vazio inunda todo o calor
de um abraço desajeitado, de um coração
despedaçado. Este vazio é a minha resposta
ao nulo. Este vazio é o infinito ser, sempre
ser neste mundo.
Por muito que as nuvens chovam,
eu chovo mais que elas.
Por muito que o sol brilhe,
eu estou inundado de transparência,
ao som de mais uns rapazes despenteados,
procuro saber como ordenar tudo o que sou.
Irmã, que nos aconteceu?
Irmã, onde é que nos perdemos um do outro?
Irmã,
escreve por mim estas linhas, que eu deixo-te
as mãos no meu conforto, paradas no espaço e no tempo.
Irmã, escreve-me o dia que vem, porque da noite estou cansado.
A resposta vem-me pelo coração:
há que seguir com os olhos na estrada,
há que prosseguir sem pensar nas outras quedas
e nas quedas falhadas de outras janelas,
há que continuar apesar dos desamores, apesar das outras histórias
em que não fomos nós a falhar, mas sentimos que podíamos ter sido.
Faz hoje um ano, ontem dois, amanhã três, e as datas não importam,
nem se importam. Não me importo de não me esquecer, mas esqueço-me
de não me importar.
Não me atirem mais cordas, porque não quero subir;
não me atirem mais água, porque não quero afundar,
não me atirem mais rosas, porque a morte delas implica o sofrer
de todas as gerações de mim. E as árvores continuam-me a crescer
e fazem-me raízes no corpo. Quebram-me as costas em partes,
choram-me os olhos do pólen,
Irmã, não escrevas mais, que sofrer não vale a pena.
Não me digas mais, que mais vale estar calado,
estas palavras são tão pouco para tudo o que eu queria ser.
Está quase no fim
este início de tudo.
Custa tanto
ter de ser.
- SM, 25/7/2012.
despenteados
penso no que me aconteceu
ao amor às coisas.
Irmã, que me vives por dentro,
sei que me deixaste cortar-te o cabelo;
peço-te mais uma vez a inspiração
da tua transpiração por este mundo
que gira mais que nós:
irmã, sei que me enches os vazios,
mas que é feito da minha vontade?
Que é feito da torre feita água
que transbordava todas as manhãs?
A minha resposta nula,
o meu mundo vazio,
o meu despedaçar no chão,
o meu mundo tranquilo
sem nada nem ninguém.
Sem nada nem medo de não ser ninguém.
E repito-me. De que me vale repetir-me?
E repito: de que me vale repetir?
Este vazio inunda-me mais que o amor.
Este vazio inunda todo o calor
de um abraço desajeitado, de um coração
despedaçado. Este vazio é a minha resposta
ao nulo. Este vazio é o infinito ser, sempre
ser neste mundo.
Por muito que as nuvens chovam,
eu chovo mais que elas.
Por muito que o sol brilhe,
eu estou inundado de transparência,
ao som de mais uns rapazes despenteados,
procuro saber como ordenar tudo o que sou.
Irmã, que nos aconteceu?
Irmã, onde é que nos perdemos um do outro?
Irmã,
escreve por mim estas linhas, que eu deixo-te
as mãos no meu conforto, paradas no espaço e no tempo.
Irmã, escreve-me o dia que vem, porque da noite estou cansado.
A resposta vem-me pelo coração:
há que seguir com os olhos na estrada,
há que prosseguir sem pensar nas outras quedas
e nas quedas falhadas de outras janelas,
há que continuar apesar dos desamores, apesar das outras histórias
em que não fomos nós a falhar, mas sentimos que podíamos ter sido.
Faz hoje um ano, ontem dois, amanhã três, e as datas não importam,
nem se importam. Não me importo de não me esquecer, mas esqueço-me
de não me importar.
Não me atirem mais cordas, porque não quero subir;
não me atirem mais água, porque não quero afundar,
não me atirem mais rosas, porque a morte delas implica o sofrer
de todas as gerações de mim. E as árvores continuam-me a crescer
e fazem-me raízes no corpo. Quebram-me as costas em partes,
choram-me os olhos do pólen,
Irmã, não escrevas mais, que sofrer não vale a pena.
Não me digas mais, que mais vale estar calado,
estas palavras são tão pouco para tudo o que eu queria ser.
Está quase no fim
este início de tudo.
Custa tanto
ter de ser.
- SM, 25/7/2012.
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