Amarrada
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Amarrada
O que fazer quando o teu sonho de consumo é o teu inferno particular? Quando a tua felicidade gira em torno daquele que te faz sentir miserável? Quando o destino te prega uma partida de mau gosto juntando o rapaz perfeito e o pior monstro num mesmo corpo o que se deve fazer? Eu adoraria saber a resposta…
A chuva caia sobre o meu corpo e eu abracei os joelhos, enquanto os meus pés desapareciam debaixo da areia molhada, para tentar espantar o frio que fazia naquele fim de tarde. Eu sabia que não era o melhor sítio para estar num dia de chuva mas era o único sítio onde os meus problemas pareciam pequenos em comparação á imensidão do mar na minha frente.
Fechei os olhos recordando o motivo que me levou ali. Mais uma discussão sem sentido. Mais uma vez que, em vez de terminar com tudo, me vim esconder aqui esperando que ninguém me encontrasse, especialmente ele. Estranho, até mesmo ridículo que me esteja a esconder da pessoa que mais amo. Mas que posso fazer se ele, por vezes, não me parece ele? Ás vezes olho para ele e não o vejo, não vejo aquele rapaz por quem me apaixonei. Não vejo o rapaz carinhoso e romântico que ele sempre mostrou ser. O que vejo é apenas uma indiferença tal que chega a doer, uma arrogância insuportável mas continuo lá. Estou lá todos os dias esperando ver mais do que ele mostra, esperando as migalhas de atenção e amor que por vezes ele me dá. E saber que esses momentos de amor e atenção que ele me dá, mostrando ser aquele rapaz por quem me apaixonei, não passam de uma maneira egoísta e desprezível de me manter lá, de me manter atada a ele. É como se existisse alguma ligação doentia entre nós. Por mais que queira não me consigo soltar dele e o que magoa mais é saber que o amo apesar de tudo.
Levantei-me e aproximei-me do mar sentindo as ondas baterem nas minhas pernas. Olho para baixo e vejo o meu reflexo e, no mesmo instante, viro o rosto decepcionada. Nem a mim própria reconheço. Ele não foi o único que mudou, talvez nesta história toda quem tenha mudado mais tenha sido eu e tudo por culpa dele. Ele tornou-me na rapariga depressiva que sou hoje. Limpo as lagrimas que caem e percebo que nem vale a pena porque elas continuarão a cair enquanto não parar de pensar nele.
Não acho que as pessoas compreendam o porquê da mudança que sofri, acho que nem se dão conta. Como poderiam? Digamos que sou uma óptima actriz e ocultar os meus sentimentos torna-se cada dia mais fácil. Representar uma adolescente feliz e contente tornou-se o papel da minha vida. Ele é o único que vê o que mudou porque perto dele não finjo com esperança de ver algum tipo de remoroso no seu olhar sabendo que a culpa é toda dele e da maneira como me trata.
Não sei o que é pior. Os dias em que me ignora, que finge que não existo ou os dias em que me dá atenção esperando ser o suficiente para me manter com ele mais uns tempos. Sinto raiva. Não dele, dele apenas sinto deceção porque nem raiva consigo sentir do ser que mais me magoa. Raiva sinto de mim por não conseguir sair deste ciclo vicioso, por me ter tornado assim por culpa de um rapaz que não está minimamente interessado no que sinto.
Muitas vezes me disseram como o amor era complicado mas nunca me explicaram o que se deve fazer quando amas a pessoa que adorarias odiar. Quando o ódio por não o conseguires odiar se vira contra ti e nem te consegues olhar no espelho odiando a pessoa que é reflectida.
O mar faz-me ter esperanças, esperança que isto acabe, que o que quer que me esteja a amarrar a ele se rompa e eu possa voltar a ser livre e encontrar alguém que me ame de verdade.
Entrei no mar e olhei o horizonte vendo o põr-do-sol deixar a escuridão envolver-me. Mergulhei e os problemas pareceram desvanecer-se nas ondas e por um minuto esqueci tudo enquanto a chuva continuava a cair e os meus olhos se fechavam levando-me para o único lugar onde realmente era feliz. Na minha mente onde a imaginação assumia a vez da realidade, onde o mundo parecia tão perfeito e os problemas não existiam. Naquela noite eu não era eu, era a rapariga feliz e contente que não necessitava de representar esse papel porque não havia nada que a fizesse chorar…
A chuva caia sobre o meu corpo e eu abracei os joelhos, enquanto os meus pés desapareciam debaixo da areia molhada, para tentar espantar o frio que fazia naquele fim de tarde. Eu sabia que não era o melhor sítio para estar num dia de chuva mas era o único sítio onde os meus problemas pareciam pequenos em comparação á imensidão do mar na minha frente.
Fechei os olhos recordando o motivo que me levou ali. Mais uma discussão sem sentido. Mais uma vez que, em vez de terminar com tudo, me vim esconder aqui esperando que ninguém me encontrasse, especialmente ele. Estranho, até mesmo ridículo que me esteja a esconder da pessoa que mais amo. Mas que posso fazer se ele, por vezes, não me parece ele? Ás vezes olho para ele e não o vejo, não vejo aquele rapaz por quem me apaixonei. Não vejo o rapaz carinhoso e romântico que ele sempre mostrou ser. O que vejo é apenas uma indiferença tal que chega a doer, uma arrogância insuportável mas continuo lá. Estou lá todos os dias esperando ver mais do que ele mostra, esperando as migalhas de atenção e amor que por vezes ele me dá. E saber que esses momentos de amor e atenção que ele me dá, mostrando ser aquele rapaz por quem me apaixonei, não passam de uma maneira egoísta e desprezível de me manter lá, de me manter atada a ele. É como se existisse alguma ligação doentia entre nós. Por mais que queira não me consigo soltar dele e o que magoa mais é saber que o amo apesar de tudo.
Levantei-me e aproximei-me do mar sentindo as ondas baterem nas minhas pernas. Olho para baixo e vejo o meu reflexo e, no mesmo instante, viro o rosto decepcionada. Nem a mim própria reconheço. Ele não foi o único que mudou, talvez nesta história toda quem tenha mudado mais tenha sido eu e tudo por culpa dele. Ele tornou-me na rapariga depressiva que sou hoje. Limpo as lagrimas que caem e percebo que nem vale a pena porque elas continuarão a cair enquanto não parar de pensar nele.
Não acho que as pessoas compreendam o porquê da mudança que sofri, acho que nem se dão conta. Como poderiam? Digamos que sou uma óptima actriz e ocultar os meus sentimentos torna-se cada dia mais fácil. Representar uma adolescente feliz e contente tornou-se o papel da minha vida. Ele é o único que vê o que mudou porque perto dele não finjo com esperança de ver algum tipo de remoroso no seu olhar sabendo que a culpa é toda dele e da maneira como me trata.
Não sei o que é pior. Os dias em que me ignora, que finge que não existo ou os dias em que me dá atenção esperando ser o suficiente para me manter com ele mais uns tempos. Sinto raiva. Não dele, dele apenas sinto deceção porque nem raiva consigo sentir do ser que mais me magoa. Raiva sinto de mim por não conseguir sair deste ciclo vicioso, por me ter tornado assim por culpa de um rapaz que não está minimamente interessado no que sinto.
Muitas vezes me disseram como o amor era complicado mas nunca me explicaram o que se deve fazer quando amas a pessoa que adorarias odiar. Quando o ódio por não o conseguires odiar se vira contra ti e nem te consegues olhar no espelho odiando a pessoa que é reflectida.
O mar faz-me ter esperanças, esperança que isto acabe, que o que quer que me esteja a amarrar a ele se rompa e eu possa voltar a ser livre e encontrar alguém que me ame de verdade.
Entrei no mar e olhei o horizonte vendo o põr-do-sol deixar a escuridão envolver-me. Mergulhei e os problemas pareceram desvanecer-se nas ondas e por um minuto esqueci tudo enquanto a chuva continuava a cair e os meus olhos se fechavam levando-me para o único lugar onde realmente era feliz. Na minha mente onde a imaginação assumia a vez da realidade, onde o mundo parecia tão perfeito e os problemas não existiam. Naquela noite eu não era eu, era a rapariga feliz e contente que não necessitava de representar esse papel porque não havia nada que a fizesse chorar…
Nitinha- Andersen
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Re: Amarrada
Este texto está lindo...Fiquei sem palavras ao lê-lo.
Conheço a sensação que exprimiste aqui, e mesmo assim duvido que eu conseguisse fazer melhor.
O amor que se transforma em ódio, desilusão, tristeza, mágoa. Há muitas pessoas que não dão valor quando o têm e acabam por perde-lo...
Mas parabéns pelo óptimo texto!
Conheço a sensação que exprimiste aqui, e mesmo assim duvido que eu conseguisse fazer melhor.
O amor que se transforma em ódio, desilusão, tristeza, mágoa. Há muitas pessoas que não dão valor quando o têm e acabam por perde-lo...
Mas parabéns pelo óptimo texto!
Haneul- Homero
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Re: Amarrada
O amor consegue ser ralmente complicado! Obrigada por deixares a tua opinião, é muito importante para mim! :)
Nitinha- Andersen
- Localização : Porto
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Re: Amarrada
A forma como conseguiste por a personagem a pensar e passar todas essas emoções contraditórias ao leitor foi muito boa! Confesso que sou muito céptica quanto a relações assim, em que um dos lados sofre para que o outro se possa sentir menos miserável, mas gostei bastante da forma como abordaste o tema e nos tocaste a nós. Muito bonito :)
Re: Amarrada
Muito obrigada pela tua opinião Fox, é muito importante! E fico muito feliz de teres gostado :D
Nitinha- Andersen
- Localização : Porto
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