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Guardian Angel

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Mensagem por Nitinha Dom Ago 12, 2012 5:51 pm

Olho para ele e sinto o coração apertar de maneira insuportável, a dor da despedida era torturante como se facas se alojassem e cravassem sem piedade em mim. Ele era o objecto do meu desejo, o único que necessitava e, por ironia ou simplesmente pelo destino, era o único que nunca poderia ter.

Vejo-o olhar para a televisão e a sua gargalhada preenche o espaço como se de uma melodia se tratasse, o som que eu daria tudo para ouvir para o resto da minha imortalidade. Mas eu sei que é impensável sequer pensar nisso. Culpava-me todos os dias por ter deixado isto acontecer. Era a única regra que o nosso trabalho exigia: Nunca se apaixonar pelos protegidos. Essa regra pretendia manter quaiquer sentimentos, quer fosse de amor, desejo ou paixão, fora da nossa vida. A última coisa que ainda nos tornava meramente humanos, os sentimentos, eram algo a que éramos ensinados a combater como se fosse uma doença. E eu não me importava, não queria saber porque nunca tinha sentido nada que se parecesse por qualquer outro. Os trabalhos para mim não passavam disso, meros trabalhos. Nunca nos meus duzentos anos permiti o meu coração envolver-se desta maneira absurda. Mas quando o vi, a primeira vez em que os meus olhos cruzaram com os dele, protege-lo tornou-se mais uma necessidade que um dever. Arrependia-me de não ter desistido quando ainda era tempo, quando os sentimentos ainda estavam a nascer dentro de mim ou quando passei a desejar aquele rapaz de olhos tão claros e transparentes como a água. Mas deixei este sentimento crescer e instalar-se no meu coração tão subtilmente mas de maneira tão intensa que quando me dei conta era tarde demais. Estava irremediavelmente apaixonada.

Perdi a conta às noites que passei sentada na sua cama velando o seu sono, deixando o sentimento proibido, o sentimento que era considerado um pecado para nós florescer sem impedimento. Foram tantas as vezes que pensei em acabar com este sofrimento, contar tudo o que sentia aos outros e assim abandonar de vez este trabalho, abandoná-lo…

Até este momento não tinha percebido o que magoava mais: Vê-lo todos os dias a viver a sua vida sabendo que nunca poderia fazer parte dela, sabendo que nunca poderia tê-lo ou terminar com isto de uma vez e abandonar tudo. E apesar de ele ser incapaz de me ver, de eu ser invisível ao seu mundo ele era a única coisa que importava no meu e deixar de vê-lo, deixar de ouvir a sua voz ou sentir o seu cheiro era pior do que qualquer outra coisa.

Por essa razão nunca toquei neste assunto com os outros com medo do que saberia que fariam, do que me fariam abdicar. Escondi este sentimento no fundo da minha alma mas não foi o suficiente. Eles descobriram e a sentença foi aplicada. Eu teria de abandoná-lo, teria de aceitar outro trabalho, outro protegido, e esquecer a existência dele. E cá estava eu a despedir-me, tentando gravar cada traço do seu rosto na minha memória, pois eu nunca seria capaz de esquecê-lo. Disso eu não tinha qualquer dúvida. Ele tinha sido o primeiro e único amor da minha existência por mais proibido e impensável que isso pudesse ser aos olhos da minha raça. Aproximo-me e ele nem se apercebe, ele não consegue escutar os meus passos, a minha respiração irregular ou o leve roçar das minhas asas na parede. Sempre me pareceu surreal a maneira como eles nunca perceberam que estávamos aqui tão próximos apesar de sermos de mundos diferentes, somos como sombras que seguem todos os seus passos e mesmo assim a nossa existência continua no anonimato. Somos um mero mito, tema de muitas histórias, realidade inventada na mente de criadores.

Ouço um chamamento que me indica que chegou a hora, que o meu tempo aqui terminou. Mas não resisto a um último gesto e então aproximo-me da cama onde já se ouve a sua baixa respiração. Coloco a mão sobre o seu cabelo e noto que já dorme profundamente. Aproximo o meu rosto do seu e, suavemente, toco os seus lábios com os meus sentindo apenas o gosto amargo da despedida. Ele não se move e eu sussurro um adeus antes de desaparecer do seu quarto sabendo que aquele beijo não foi apenas a minha última acção na sua vida mas sim uma renúncia ao meu trabalho como seu anjo da guarda.
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Mensagem por Fox* Seg Ago 13, 2012 12:30 am

Acho que é a primeira vez que leio uma one-shot sobre anjos apaixonados...
Não me estou a queixar :)! Acho que conseguiste passar muito bem ao leitor a dor da despedida e toda a amargura que a personagem principal sentiu naquele último momento com a criança (não sei porque, assumi que era uma criança).
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Guardian Angel Empty Re: Guardian Angel

Mensagem por Nitinha Seg Ago 13, 2012 8:43 am

Sempre pensei nele com um adolescente já, não uma criança mas percebo a tua ideia :)
Obrigada por me dares a tua opinião!
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