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Segredo

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Mensagem por Nitinha Dom Ago 12, 2012 6:25 pm

Fecho os olhos e espero ver mais do que a imagem que vem infernizando as minhas noites desde aquele dia… Abro os olhos e levanto-me da cama tentando acalmar o coração acelerado e a respiração ofegante por causa do pesadelo. Pesadelo não. A realidade, a mesma imagem, o mesmo momento. Sempre o mesmo… Penso se algum dia esquecerei aquele olhar suplicante, o olhar que pedia misericórdia e, por fim, o olhar quando o gatilho foi premido e a bala trespassou o seu coração e a vida foi arrancada daquele corpo.

A minha visão torna-se embaciada quando as lágrimas resolvem aparecer. Sento-me no chão e nada se ouve nesta noite, aparentemente, calma onde as lágrimas se tornam a minha única companhia.

Os meus pais dormem no quarto ao lado sem desconfiarem do que se passou, do que me tornei…

Toda a gente fala da morte do nosso vizinho da frente mas ninguém sabe especificar o que aconteceu. A polícia sabe que a causa da morte foi um tiro certeiro mas não encontraram a arma. Nem podiam. Enterrei-a no jardim atrás da minha casa depois do ocorrido.

Ninguém consegue imaginar como é horrível ouvir as pessoas comentarem “Ele era tão bom homem. Não fazia mal a ninguém. Não merecia isto” quando nós, apenas nós, sabemos que isso não é verdade…

Ele só teve o que merecia. Se ele nunca tivesse feito o que fez nada disto teria acontecido. Ajoelhada no chão do meu quarto e com as lágrimas inundando os meus olhos recordo o que levou a tudo isto. Eu conheci-o desde que era pequena. Ele era amigo da minha família e sempre nos tratou bem. Principalmente a mim e á minha irmã mais nova. Dias antes do ocorrido eu ia a sair de casa quando ele me pediu ajuda para arrumar umas coisas. Como sempre, eu fui ajudá-lo. Quando entrei perguntei onde estavam as coisas e ele indicou-me a biblioteca. Fui até lá mas não vi nada que pudesse ser arrumado. Estava tudo no seu exacto lugar. Ia perguntar-lhe em que precisava de ajuda quando o vejo trancar a porta e guardar a chave no bolso das calças. Afastei-me porque percebi que algo não estava bem. Quando ele se aproximou de mim eu tentei fugir mas ele agarrou o meu braço encostando-me á parede. Senti o hálito a cerveja no meu rosto e tentei empurrá-lo mas ele era mais forte. Quando a sua mão apertou a minha perna as lágrimas desceram em cascata. Tentei gritar mas ele tapou a minha boca proibindo-me de o fazer. O que aconteceu a seguir foi o pior momento da minha vida. Não consigo pensar nisso. Só quero esquecer daquelas imagens. Depois disso ele mandou-me embora e eu não tive coragem de contar a ninguém. E não valia a pena, ninguém acreditaria em mim. Era a palavra de um professor respeitoso contra a minha, uma rapariga rebelde que só se metia em problemas e tinha fama de se meter com todos. É fácil perceber em quem iriam acreditar…

Quando cheguei a casa fui tomar um banho. O mais longo de toda a minha vida. Sentia-me imunda. Esfreguei todo o meu corpo mas o nojo que tinha de mim não desapareceu. Quando todo o meu corpo estava vermelho e saí do banho. Nessa noite não consegui dormir. As imagens não abandonavam a minha mente um minuto que fosse. Ainda hoje me lembro da frase que ele me sussurrou ao ouvido antes de estragar a minha vida:

“Andavas a provocar-me estes anos todos, agora só te dou o que querias minha querida.”

Não sei do que ele falava quando disse isso. Ele era apenas um nojento que não merecia nada. Dias depois eu não conseguia aguentar vê-lo a falar com a minha família como se não me tivesse feito absolutamente nada mas a última gota foi quando o vi a conversar animadamente com a minha irmã. Uma raiva subiu pelo meu corpo ao imaginar que ele podia tentar fazer o mesmo com ela. Aí percebi que tinha de fazer algo. Comprei uma arma e, apesar de nunca ter disparado, dirigi-me a casa dele entrando pela porta dos fundos que sempre se encontrava aberta. Dirigi-me á sala e quando o vi sentado no sofá apontei-lhe a arma. Ele olhou para mim surpreendido e pediu para não o fazer. Aproximou-se de mim e as lágrimas já caiam quando ele agarrou o meu braço tentando impedir-me em vão. Premi o gatilho e vi o seu corpo sem vida cair e, rapidamente, o sangue inundava o chão da sala. Saí dali a correr dirigindo-me a casa. Peguei numa pá e enterrei a arma antes de entrar em casa em direcção ao meu quarto.

Não me arrependo de absolutamente nada. Só fiz o que devia ser feito. Olho pela janela vendo o sol já no céu. Mais uma noite perdida. Suspiro e levanto-me a tempo de a minha irmã entrar sorridente no meu quarto. Retribuo e retiro-me para tomar um banho antes de ir para a escola. Quando desço as escadas vejo a minha família a tomar o pequeno-almoço e os seus sorrisos demonstram não saber que a sua filha se tornou uma assassina há poucos dias atrás. Sento-me com eles e finjo que nada se passa. Finjo que tudo está bem, finjo não ter nojo de mim própria e percebo que a minha vida não passa de fingimento… Grande conclusão.

Saio de casa e olho para a frente vendo a casa vazia onde um dia aconteceram coisas terríveis que toda a gente desconhece. Viro as costas e tento continuar a viver a minha vida normalmente, pelo menos de dia, para manter as aparências até poder desabar á noite sem ninguém ver ou perceber o segredo horrível que escondo…
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Mensagem por Fox* Seg Ago 13, 2012 12:31 am

Tu abordaste aqui um tema interessante, os segredos e a vida fingida dos adolescentes, de uma perspetiva nova. Quando ela disse que o tinha morto, achei que tivesse sido uma brincadeira que tivesse corrido mal mas, tendo em conta o que ele lhe fez, não podia estar mais de acordo.
A tua abordagem foi interessante, especialmente quando dizes que ela finge de dia para desabar à noite. Gostei da frase :)
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Mensagem por Nitinha Seg Ago 13, 2012 8:46 am

Muito obrigada por teres lido e deixado a tua poinião, é bom saber que as pessoas gostam do que escrevemos! :)
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