Crítica: "Hunger Games", de Suzanne Collins

Hunger Games - Suzanne Collins

Confesso que quando a minha prima disse estar louca para ver o primeiro filme da Trilogia Hunger Games encolhi os ombros e soltei uma espécie de grunhido evasivo. Tinha visto a apresentação e achei que já tinha visto aquilo em qualquer lado. Ah, certo, Battle Royale, pois. O entusiasmo da pequena não me suscitou qualquer interesse, afinal ela é uma grande fã de Twilight. Acho que não é preciso dizer mais nada.
Felizmente a curiosidade assolou-me e tomei coragem de começar a ler os livros. Versão Kindle, claro, não fosse odiar a saga e ter o livro a encher espaço na prateleira, tal qual Crepúsculo. A minha primeira opinião do livro, mesmo antes de o ler foi: "Okay, isto vai ser Battle Royale meets Twilight e estou prestes a entrar no mundo de hormonas adolescentes com um triângulo amoroso pelo meio para apimentar as coisas." Suspirei, tomei coragem e comecei a minha viagem pelo mundo de Panem.
Chega a altura de fazer outra confissão... gostei! Gostei e muito. Devorei o livro com uma rapidez impressionante e não descansei até pôr as minhas mãos no segundo.
Panem, uma nação localizada onde hoje é a América do Norte é o retrato perfeito da disparidade económica. Na sua cidade principal, a Capital, moram os mais ricos e excêntricos. Pessoas que nunca tiveram de lutar por um pedaço de comida nem trabalhar para sobreviver. Os seus fatos estranhos e maquilhagem exagerada complementam a pequenez de mente dos habitantes da Capital que vivem para os Jogos da Fome, um massacre anual tornado diversão para relembrar aos habitantes dos distritos circundantes que devem ser bons cordeirinhos e obedecer às ordens da Capital. A ideia dos jogos surgiu após uma rebelião dos distritos, que são numerados de 1 a 12, conforme a proximidade da Capital. Cada distrito tem uma especialidade para satisfazer todas as necessidades daqueles que não precisam trabalhar. Agricultura, Pesca, Indústrias, e por aí adiante. Todos os anos há uma escolha de um rapaz e uma rapariga de cada distrito com idades compreendidas dos doze aos dezoito anos. São chamados os Tributos e irão ser preparados para entrarem numa arena composta por 24 jovens onde só um pode sobreviver. E é aí que entra a nossa protagonista.
Katniss Everdeen, habitante da parte mais pobre do Distrito 12, apresenta-se como uma heroína, não como uma donzela em perigo à espera do príncipe encantado. Com a morte do pai e a tristeza que consumia a sua mãe, Katniss aprendeu a tomar conta da sua família, principalmente da irmã mais nova que adora, Primrose Everdeen. Com a ajuda de Gale, seu melhor amigo, Katniss aventura-se na floresta para além dos limites do distrito para caçar e alimentar a sua família. Os Peacekeepers, os homens da lei enviados pela Capital para controlar o distrito e manter a ordem, ao invés de castigarem Katniss e Gale por caçarem, crime punível por lei com morte, viram a cara e até compram alguns dos produtos dos dois jovens. A vida não é fácil para Katniss, mas é suportável e é livre.
Quando o dia da colheita chega Katniss ouve o nome da sua jovem irmã de doze anos ser chamado. Primrose Everdeen será um dos tributos do distrito doze a competir nos Jogos da Fome. Após um momento de confusão, Katniss voluntaria-se para tomar o lugar da sua irmã. Peeta Mellark é chamado para ser o tributo masculino do distrito doze. Peeta que Katniss recorda como sendo o 'Rapaz com o pão' que a salvou de morrer à fome numa noite fria, anos atrás.
Katniss e Peeta são arrastados para a Capital para serem aprumados, perfumados e treinados para a matança. Os 24 tributos serão confinados numa arena desenhada pelos Gamemakers com armadilhas letais e nenhum deles sabe o que os espera. Se desertos escaldantes ou florestas sufocantes. Os perigos, ao que parece, são mais do que caçar e ser caçado. É preciso sobreviver às forças da natureza. Não, sobreviver às forças da Capital que tudo faz para que os Jogos sejam repletos de acção e derramamento de sangue.
E quando os Gamemakers avaliam a performance de Katniss com um onze em doze possíveis e quando Peeta assume o seu amor incondicional pela morena em frente a toda a Capital, arranjando uma estratégia de jogo infalível para obter patrocinadores (pessoas que enviam presentes para a arena dos Jogos quando os jogadores estão em dificuldades), Katniss sabe que será um dos alvos principais a abater na 74ª edição dos Jogos da Fome.
O medo, a sensação de impotência, as amizades improváveis no meio de uma matança e os sentimentos conflituosos sobre matar pessoas que acaba por conhecer e admirar, são constantes na mente de Katniss e tornam toda a visão de Suzanne Collins real e emocionante. As dúvidas constantes sobre quem irá sobreviver e como, deixam o leitor empolgado e é tão difícil pousar o livro e afastarmo-nos de Katniss como é difícil não deixar de ficar emocionado com os acontecimentos do livro.
E é por isso que o segundo livro já está nas minhas mãos.

PS: Desculpem algumas expressões em inglês. Li o livro original e não sei bem quais são as suas adaptações para Português!